quarta-feira, 29 de junho de 2011

Três mártires de Lübeck são beatificados

São os padres Johannes Prassek, Hermann Lange e Eduard Müller
LÜBECK, segunda-feira, 27 de junho de 2011 (ZENIT.org) - Três sacerdotes que formaram um grupo de resistência ao Terceiro Reich (o quarto membro foi o pastor protestante Karl Friedrich Stellbrink) foram beatificados no último sábado em Lübeck, na Alemanha. A cerimônia foi presidida pelo cardeal Angelo Amato SDB, em representação do Papa Bento XVI.
Os três foram julgados pelo “Tribunal do Povo” (Volksgerichtshof) e condenados à morte em 10 de novembro de 1943, na guilhotina.
ZENIT falou com o postulador desta causa, o advogado Andrea Ambrosi, quem contou sobre a vida e as virtudes de cada um deles.

Johannes Prassek: prisioneiro por dizer a verdade
No dia em que foi ordenado sacerdote, ele se definiu como “a pessoa mais feliz”. O Pe. Prassek nasceu há 100 anos, em Hamburgo. Estudou na universidade dos jesuítas, St. Georgen, em Frankfurt. Em 1935, entrou no seminário maior de Osnabrück e dois anos mais tarde recebeu o sacramento da Ordem.
Sua primeira missão foi a de vigário de Wittenburg, em Mecklenburg, e, em 1939, passou a ser vigário da comunidade de Herz-Jesu, em Lübeck; depois foi nomeado capelão.
Rapidamente ganhou o carinho dos seus fiéis: “Prassek atraía as pessoas difíceis e estranhas, desfavorecidas e oprimidas”, disse Ambrosi.
“Sua pastoral o comprometia até o limite da sua capacidade física e psíquica”, comentou.
Em pouco tempo, foi reconhecido por sua fama como pregador: “Suas impressionantes homilias dominicais não só atraíam numerosos fiéis, mas também os espias da Gestapo”, reconheceu o postulador.
“Alguns amigos lhe falavam sobre as críticas que ele fazia, advertiam-no de que talvez poderiam ser imprudentes demais contra a ideologia nacional-socialista, mas Prassek não se deixou influenciar e considerava que deveria dizer a verdade”, contou.
O Pe. Prassek, além de suas críticas, dedicou-se a estudar polonês para ajudar os que eram obrigados a ir a Lübeck.
Em 1941, conheceu um jovem pastor protestante, com quem teve grande afinidade e que lhe mostrou seu desejo de conhecer a fé católica. No entanto, esse homem na verdade era um espia da Gestapo e a informação que conseguiu foi chave para que o Pe. Johhanes fosse detido em 18 de maio de 1942.
Assim, foi levado ao edifício de Burgkloster (que hoje é um museu com o mesmo nome). Esperou mais de um ano para ser julgado, em condições desumanas de fome e frio, que o afetaram gravemente, pois tinha uma doença estomacal. Durante esse tempo, escreveu numerosas cartas.
“Apesar do duro período de prisão e da perspectiva da própria execução, Prassek não perdeu a consciência da sua fé nem sua cordialidade para consolar os companheiros de prisão”, disse Ambrosi.
No dia da sua execução, permitiram-lhe escrever uma carta de despedida aos seus familiares, a qual foi destruída depois, pelas duras palavras contra o regime nacional-socialista.
“A guilhotina pôs fim à agonia suportada com valentia e fé”, contou o postulador.

Hermann Lange, grande intelectual e mártir
Ambrosi o definiu como “um sacerdote muito erudito e intelectual, não somente em questões teológicas”.
Nasceu em 1912, na Frísia oriental. Fez parte de uma associação católica estudantil denominada Nova Alemanha.
Era um fiel seguidor do escritor Romano Guardini, cuja obra o influenciou notavelmente.
Estudou, em 1931, na faculdade de teologia da universidade de Münster. Depois entrou no seminário maior de Osnabrück. Foi ordenado sacerdote em 1938. Em junho de 1939, começou seu trabalho pastoral na paróquia do Sagrado Coração de Jesus, em Lübeck.
Ambrosi destacou que “suas homilias eram preparadas de maneira absolutamente precisas”. “Além disso, era um sacerdote decidido, gentil e de sentimentos nobres, do ponto de vista humano. Era perfeitamente íntegro.”
Sobressaía-se por sua grande sensibilidade, humanidade e preparação teológica. Era um grande opositor ao nacional-socialismo. Nesse então, teve um diálogo com um jovem soldado que servia esse regime. Lange lhe disse claramente que um cristão não podia estar com os alemães em guerra.
Ele difundia sem medo seus escritos contra o regime até que, em 1942, Lübeck sofreu os primeiros bombardeios e ele, sem importar o risco que sua vida corria, preocupou-se pelo bem dos seus paroquianos.
Foi detido em 16 de junho de 1942, pela Gestapo. “O segundo senado do tribunal popular o condenou à morte, junto a outros sacerdotes, por disgregação do potencial militar, por apoio ao inimigo com traição à pátria e por delitos radiofônicos”, explicou Ambrosi, pois ele difundia ideias contra o regime em um programa de rádio.
O postulador destacou, assim, a “compostura admirável” que o Pe. Lange teve na prisão. Ele dividiu a cela com o pastor protestante Schwentner, a quem, segundo várias testemunhas, tratou como um irmão.
Suas cartas testemunham uma admirável submissão ao que Deus permitisse e uma grande profundidade religiosa: “Quando vocês receberem esta carta, eu já não estarei no mundo dos vivos”, escreveu aos seus pais no dia da sua condenação.
“Hoje será o grande retorno ao Reino do Pai, e depois verei todos aqueles que estiveram perto de mim na terra”, expressou.
Sobre esta carta, o escritor alemão Thomas Mann (1875-1955), prêmio Nobel de literatura em 1929, disse que se trata do “testemunho mais belo pelo dom da fé cristã, católica”.

Eduard Müller e a santidade nas coisas simples
Do grupo dos mártires, este foi quem teve uma juventude mais difícil. Nasceu em agosto de 1911, no seio de uma família humilde. Estudou na escola católica de Neumünster. Era o menor de 7 filhos e seu pai abandonou a família. Foi coroinha e depois carpinteiro. Desde pequeno, mostrou seu desejo de ser sacerdote.
Graças ao apoio de alguns benfeitores da paróquia, pôde concluir seus estudos e depois estudou teologia católica em Münster.
Em 1940, foi ordenado sacerdote em Osnabrück. Trabalhou na paróquia do Sagrado Coração, de Lübeck.
“Sua forma de ser, calma, gentil e não autoritária, foi muito estimada pelas testemunhas daquela época”, disse Ambrosi.
“Particularmente célebre se tornou por sua capacidade de identificação com a vida dos trabalhadores, artesãos; de fato, não era difícil para ele identificar-se, porque provinha desse ambiente, ao qual esteve sempre unido”, afirmou.
Dos mártires de Lübeck, era o menos político. Ainda assim, foi detido em julho de 1942.
Depois de ser condenado à morte, escreveu: “Tenho a esperança de que não serei jamais defraudado; pelo contrário: com toda franqueza, como sempre, também agora Cristo será glorificado com o meu amor, tanto na vida como na morte”.
Estes três mártires foram assassinados com um intervalo de apenas 3 minutos. Souberam derramar seu sangue dando suas vidas como sacrifício supremo do amor de Cristo.
(Carmen Elena Villa)

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